quinta-feira, 28 de junho de 2007

O erro no desejo do acerto

"De pessoas com boas intenções, o inferno tá cheio", me disseram uma vez, e não entendi de imediato. Só depois consegui enxergar que há pessoas que querem apenas o nosso bem, e, sem querer/saber fazem a nós o mal (desconsiderando a total relatividade desses conceitos).

Dizem muito sobre a sociedade. Reclamam de desigualdade social com a boca cheia, como se obtivessem cada partícula de razão para fazer uma reflexão filosófica, e acabam atribuíndo a ela a culpa do fracasso da experiência humana na terra. "A sociedade atual...", "...da sociedade moderna".

Temos preconceito. Temos racismo. Temos homossexualismo. Temos sexismo. Que são fatores agravantes para a decadência da relação social, isso é evidente. Não é conclusão exímia dizer que as pessoas deviam pensar nos outros como nelas mesmas. Não é maduro, porém, jogar a batata quente para a sociedade. Fazemos parte desse todo, assumamos a nossa responsabilidade. E não venha dizer que faz a sua parte. Ficar quieto no seu canto não é fazer a sua parte. É muito fácil ignorar o mendigo que carece na rua. Não se ache o exemplo de humanista por achar hediondo que jovens de classe média-alta espanquem uma mulher por pensá-la prostituta, e expor a Deus e o mundo que você nunca faria isso. O mundo não quer saber o que você não faria. Deus muito menos. "... porque a sociedade não tem cara quando lhe cabe a responsabilidade dos problemas (...) E você? Já pensou no quão culpado é na transformação do mundo no que ele é hoje?". A frase de Thiago Cobra faz revermos conceitos de maturidade social - extremamente paradoxais, assumo - que estão cravados dentro de nós mesmos. Valores que somos imbuídos ao longo da nossa jornada no planeta, e que podem não estar mais coerentes com os dias de hoje.

A essa subversão da idéia da sociedade e ao aprofundamento da maturidade social que culpamos a inconsciência. Os problemas sociais de preconceito supracitados estão longe de estarem errados. O preconceito não nasceu como uma coisa ruim. O preconceito tornou-se uma coisa ruim ao longo do tempo, à medida que foi desbotando na ordem social.

Explico. Aquela sociedade que conheciamos, e que julgamos até hoje como nossa, foi construída com base no medo. Pensar diferente, dentro do absolutismo dos nossos antepassados, era motivo de morte. Ser diferente, pior ainda! Os papais da época do absolutismo criavam seus filhos para não se revolucionarem, para que não morressem. Que pai cria o filho para morrer? Os papais da inquisição criavam seus filhos para amar Deus sobre todas as coisas (ou amar a Igreja sobre todas as coisas), para que não lhes houvessem que chorar às cinzas. Os papais da ditadura militar criavam seus filhos para que não falassem do governo, não conspirassem.

Os papais eram tão amorosos que acabaram por criar um senso comum do que é bom e o que é certo. Afinal, não se mexe em time que está ganhando. Por puro amor. Por pura inocência. Por puro medo.

Hoje em dia, ainda se cria os filhos com base no medo. Mas o medo de hoje é reflexo do medo dos nossos antepassados. Criamos nossos filhos temendo que eles sejam rejeitados na escola, no trabalho, no mundo. Criamos nossos filhos para que sobrevivam, não para que sejam felizes.

Não culpo os pais de antigamente por obrigarem seus filhos a implorar de joelhos a misericórdia divina. Tudo que fizeram foi por amor. Foi por amor que
Dédalo deu as asas que tomariam seu filho, Ícaro.

O preconceito é o filho mau do medo. O filho bom é a organização social. Se queremos mesmo reclamar da sociedade de cara limpa, sem que precisemos sentar nos próprios rabos, não podemos rechaçar o preconceito, e nem elevar a organização social. Devemos lutar contra o medo, que é uma grande luta interna. Quando não mais formos dominados por esse medo, então estaremos livres do nosso papel antagônico na sociedade.


Duas coisas me iluminaram para este texto. A prova de Redação que fiz hoje, e o texto do meu grande amigo, Thiago Cobra, que fala sobre o paradoxo humano. Uma filosofia de vida antifóbica que tenho adotado há alguns anos também foi imprescindível para minhas conclusões acima. Ainda (e sempre) as considero incompletas e ajustáveis. Portanto, por favor deixe a sua opinião! Tenho aprendido a ver o outro lado das coisas ruins. O lado bom do preconceito, o lado ruim da família. Isso não quebra minhas convicções. Não deixo de achar que o preconceito é errado, e nem que a família é algo bom, mas sou muito mais completo e sinto-me muito mais embasado quando critico. Não acho que podemos fazer nada sem pensar no outro lado. Não acho que podemos dizer que algo é ruim ou bom se não analisarmos por inteiro. Apenas o medo impede essa filosofia. Por isso digo que sou antifóbico ^^

Se vc leu tudo até aqui, parabéns pela sua enorme paciência! E muito muito muito obrigado!

6 comentários:

  1. Este rapaz está certo...
    Porque se pegarmos como base a historia do mundo,da população mundial,nossos atos são derivados de ocorrencias para nossa sobrevivencia.E não para a sobrevivencia alheia.
    Mas.Já que estamos convivendo com uma sociedade q não respita a si mesma.
    Creio que não devemos dar valor a isso...
    E sim...
    Passar pelo mendigo e não sentir culpa...ver o que jovens fazem e dizer q está certo por não fazer...
    Embora eu tenha uma opinião um pouco inversa eu gostei em relação a qual ele faz...
    Muito bom...

    ResponderExcluir
  2. Também sou antifóbica, mas ainda olho para os dois lados antes de atravessar a rua...

    ... e aposto que você também.

    De qualquer forma, grande texto!!

    Depois conversamos,

    Bisou!

    ResponderExcluir
  3. Eu nem olhar pro dois lados olho mais, uso a visão periférica =D

    Continuando com a visão antifóbica, a perda do medo implica também em parte na perda de sentimentos tb.. (não ter medo de perder um amigo significa deixar de cultivar a amizade?)

    Tah, deixando as minha filosofia pra quando eu fizer meu blog, interessante isso, realmente o que era feito a trocentos anos atrás influencia em muito a nossa vida, e o pior é que na mioria das vezes dá pra ver isso dentro de casa (ou na do visinho)...

    Sei lá, isso vai ser o tema da minha própria reflexão comigo mesmo (relações afetivas baseadas no medo e o pradaoxo), ai eu lembro de passa por aqui pra dividir idéias.

    ResponderExcluir
  4. depois nois cunversa sobre u texto...
    tenhu uns comentarios..

    ti amu +qd+!!!
    bjus

    ResponderExcluir
  5. depois nois cunversa sobre u texto...
    tenhu uns comentarios..

    ti amu +qd+!!!
    bjus

    ResponderExcluir
  6. leon!!
    eu li todo sim!
    inclusive o seu proprio comentario no final!
    realmente, eu concordo com vc...ateh familia tem o lado ruim, preconceito tem o lado bom
    e uma coisa q me chamou a atençao no texto foi a parte em q vc diz q a gnt as vezes pensa "eu jamais faria akilo" (qnd nos referimos a atos de violencia...hediondos)...mas o q realmente importa nao eh o q nao fariamos, mas sim o q nós fariamos...pra mudar essa realidade triste a nossa volta, q por vezes a gnt acaba nem tendo contato, pq qrendo ou nao, somos privilegiados.
    bom...continuo axando q vc tem o dom! pensa em comunicaçao social, na ufmg!
    te adoro demais!
    mt saudade!
    =*

    ResponderExcluir