quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Transparência

Eu não gosto de guache porque é muito opaco. Ele não deixa aparecer o branco do papel por baixo. É 8 ou 80. Vc tem que ter muita certeza de que é aquilo ali que vc quer.

Aquarela não. Com ela vc pode lentamente ir ajustando a cor para ela se tornar aquilo que vc quer. E as vezes ela acaba vazando pra um lado que vc não estava esperando, criando toda uma diferença, induzindo o artista a pensar por um outro lado.

Acho que a vida deveria ser mais assim também.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ensaio sobre a Bebida

Pode chamar de preconceito. Ser anti-preconceito é ordinário.

Lembro-me de quando jogava Super Mario no meu saudoso SNES e, em meio à confusão e o caos de monstros e blocos e quedas mortais aparecia a salvadora da pátria. A estrelinha que nos deixava invencível. A sensação de alívio e coragem que ela proporcionava. A factual invencibilidade.

Sob o seu efeito podíamos tudo.

Pois bem. Essa estrelinha existe no mundo real. Em diferentes níveis. Eu diria alucinógenos, mas conotaria drogas ilícitas. Não é isso que eu quero. Quero drogas lícitas, mas em especial o álcool. Porque fumar vicia, mas não é estrelinha.

O álcool é a estrelinha. Sob seu efeito podemos tudo. Somos mais corajosos, falamos o que pensamos sem ligar para as consequências. Somos sensíveis, somos até artísticos. Vomitamos produtividade. Em níveis mais altos vomitamos comida mesmo.

Mas é claro, álcool é igual Justin Bieber, Anime, Metal, Sertanejo e Religião. Em níveis amenos, só alegria. Em níveis fanáticos os problemas se iniciam. Como dizia um grande professor, "o problema são os fãs do Ed Motta". Beber até cair é até aceitável, mas a apologia que se sucede do mau uso da bebida é tão infantil quanto o proprio mau uso. Ora, tudo em excesso é prejudicial. Até saúde. Até amor. Até paz.

Porque o que se inicia em boemia, nas festas, cervejadas, calouradas, chopadas, micaretas, até serenatas e serestas como antigamente, acaba mal. De verdade. Talvez não hoje, talvez daqui a vinte anos. Talvez não para os usuários, mas para seus filhos e até netos.

Convenhamos, não é confortável perceber uma alteração clara de comportamento numa pessoa que é uma base para você. Um exemplo. Mesmo que inicialmente para melhor, com o tempo o sentido se esvai e só sobra um casco de opinião caótico e necessitado. Aquela tentativa de suceder naquilo que sóbrio se falha. Fazer da autoridade de pai um reinado, espancar a esposa, espancar os filhos. Jogar a cadeira na televisão, ora, que forma mais efetiva de se provar um ponto. Que sensatez! Que maturidade!

Fora a auto-condenação. Obrigar os filhos a compactuar com isso, a aceitar isso. A ver sempre aquele copo de whisky na geladeira, ou as latinhas ainda frescas que serão consumidas vorazmente. Obrigá-los a ver os resquícios do vômito, numa demoníaca alquimia de cigarro e bebida. Obrigá-los a lidar com o eterno fantasma da doença e da morte rondando na esquina. Esperando com sua foice pelo momento oportuno para fazer valer toda a insensatez de uma vida desregrada.

Não é confortavel, enfim, obrigar os filhos a lidar com sua morte prematura, regada por esse elixir de corrupção que tantos colocam num patamar quase divino. E o luto que se sucede.

Não. Eu não acho que todo o preconceito seja ruim. É, sim, quando invade a liberdade dos outros. A partir do momento que ele deixa de ser preconceito e se transforma em auto-preservação, existe verdade.

Diante desse trilho condenado em que vejo muitos de quem gosto, só posso desejar.

Bebida é uma coisa muito boa. Com certeza.

Mas limite também é.