segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Carnaval III

Terceiro dia:

Quase o fim dele, na verdade. Hoje o sol queimou. Embora eu não estivesse sob ele, sentindo minha pele se desmantelar em bolhas escaldantes, o sol queimou.

Não abri minha janela novamente, mas foi ao acaso. Há quem diga que o acaso não existe. Não tenho uma opinião formada. Sei que não abri a janela hoje, e não estou me sentindo mal. Quem diz que acaso não existe, favor providenciar uma teoria.

Hoje o mundo estava tão parado quanto nos últimos dias. Na verdade o dia foi mais parado do que a noite. Na verdade o sol brilhou mais à noite. Seu fervor espalhou chamas por todo o mundo à noite.

Hoje o fogo do caos, da destruição, do descaso e do terror encheu a noite, iluminou as pobres almas que assistem a esse drama há meses. Fez da carne pó, fez do osso pó, fez da alma pó.

E quem perguntar o que é que se fez do amor e da amizade.

Que perguntem ao sol, porque ele ilumina mas também queima.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval II

Segundo dia:

O sol hoje não viu meu quarto. As janelas ficaram fechadas pelo dia e, como conseqüência, mal ouvi se as crianças gritaram nas piscinas vizinhas. Mal ouvi os pássaros, pra falar a verdade.

Hoje minha casa tomou um banho de realidade, todos saíram, todos viram a luz do dia. Todos estão risonhos assistindo as vídeo-cassetadas.

Eu?…

Eu assisti seriados o dia inteiro. Supernatural, para manter minha cabeça ocupada. “Cabeça vazia é oficina do Diabo”, dizem por aí. Ontem, lá em baixo, o nada me torturava. Tanto é que chorei ao ver o lugar em que selei um último beijo.

Eu continuo o mesmo. Consigo rir e fazer piadas. Consigo comer pão, pegar dinheiro no banco, fazer barba. Mas não sou eu, não. Não há vida, não há o piano, não há desenhos. Meus olhos continuam castanho-escuros, mas sem aquele brilho.

Entenda, não é a verdade que me caça. A verdade é só um detalhe na minha vida. A verdade é como uma tatuagem ou uma cicatriz. Não há como negá-la, ela está lá, acompanhando-nos o tempo inteiro. Já doeu, mas não durou tanto. Agora é só uma marca.

O que ainda dói, é o silêncio. O nada. A ausência. Essa estupidez inexistente! Como é que pode um murro não dado doer com tamanha intensidade? Preferia que me tivessem espancado, de verdade. Que me tivessem arrancado sangue, deixado no hospital. Mas o silêncio é tortura.

O abandono é a morte.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Carnaval I

Primeiro dia:

Já não há mais sol. O mundo hoje parece ter parado de girar. Ninguém na rua, ninguém nas janelas dos prédios vizinhos. Alguns gritos infantis vez ou outra ressoam pelo quarteirão; ao olhar para fora, não há sinal de sua fonte.

A internet está abandonada, salvo pelos estrangeiros para quem o ano já começou. Tudo que encontro em minha lista de contatos são pessoas ocupadas, ausentes. Cascos, na verdade. Sombras de quem não há.

A semana de Carnaval em São Luiz não está mais nos planos das pessoas que se sentem obrigadas a improvisar. O Brasil ainda está de férias e estará até domingo que vem. Prevejo que, a não ser pelos grandes entusiastas do samba-enredo, do Rio de Janeiro e da Rede Globo de Televisão, essa semana estará morta.

Hoje desci até o Salão de Festas. Ele ainda ecoa como ecoava no começo do ano. Instalaram-se portas e chaves. O salão que era meu amigo, meu refúgio, já não existe mais. Lá agora residem apenas ecos e memórias agridoces.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Agridoce

Primeiramente eu gostaria de que todos que estão lendo isso entendessem que eu não estou me vangloriando nesse texto. Tudo o que eu falo aqui é baseado em opiniões alheias.

Mas, como eu falar aqui e o Celso Pitta falando mandarim debaixo d’água são igualmente compreensíveis, vou colar a opinião que  amigos meus me deram por MSN. Negritei as características principais para os preguiçosos de plantão.

Paula

Papoula diz:
*ok...
*bom, a primeira impressão que eu tenho é de contradições...
*ao mesmo tempo que a escrita parece refinada e madura, os temas são um tanto mais juvenis as vezes...
*Eu acho que parece um pouco com o verríssimo, mas o texto do verissímo, passa um pouco mais de experiencia que o seu...
*bom, mas a semlhança com ao verissimo é que apesar de ser um texto quase erudito, não é rebuscado, como vc diz, é refrescante...
*consegue ser claro e bonito sem ser enfadonho…
*mais contradições... ao mesmo tempo que os temas são extremamente pessoais, vc costuma fazer observaçoes externas... são poucos os texto que mostram algum sentimento seu. Então é quase como se vc fosse, assim, uma voz alheia...
*por vc se externalizar da situação sua visão é critíca, mas não é direta...
*daí o gosto ácido indistinguivel em meio a beleza e fluídez do texto...
*hmm... outra coisa...
*parece que vc está escrevendo pra alguém em particular, sempre...
*a idéia da pessoalidade, vc faz o tema parecer pessoal...
*e o tom crítico me faz sentir, "não, ele não disse isso, não foi pra mim, mas foi pra laguém que le conhece"
*é como se a gente (o leitor, eu) tivesse que direcionar a crítica, entendeu?
*é a picada que vc sente, mas só vai coçar mesmo depois
*parece que tem um objetivo... um leitor, ou um alvo...
*eu acho o máximo... deixa aquela ideia no ar, "será que isso foi pra mim?"

Juju

Juju diz:
*regra 1 de convivencia com a juju nas férias = nada de palavras mto utilizadas em vestibulares, por favor (incluindo dissertar) auhsauhsauhsuahsuahsuahsuahsu
*eu gosto do seu jeito de escrever pq ele é bem flexível
*o seu estilo é bem cheio de personalidade... é algo que dá super pra ouvir sua voz falando o texto
*é um texto bom pq não é um texto burro
*texto burro, pra mim, são aqueles textos super bonitinhos que no final afirmam algo obviamente óbvio
*sei lá, vc discorre (droga, o vestibular voltou) sobre temas diferentes, mas sem se perder na sua opinião, vc é bem firme... quando eu leio seus textos vc sempre me leva a pensar
*mas não é só pensar, é raciocinar
*a partir de um ponto vc cria um leque de opções
*mas não de uma maneira confusa, e sim de uma maneira bem clara

Giovanni

Giovanni diz:
*vejo q vc incorpora mto da vida contemporânea
*isso é mto legal
*noto q falta mto disso para despertar nos jovens o gosto pela leitura
*é raro abrir um livro q fala de MP3, por exemplo
*gosto mto disso
*vc tem um jeito mto leve de escrever
*o q torna a leitura bem prazerosa

Tunico

o==]|==Turucutuco==> 'Cause you know, sometimes words have two meanings.... diz:
*eu curto suas expressões, as figuras de linguagem
*vc n floreia tanto, mas a compreenção é perfeita
*uma coisa causa a outra, na verdade
*e isso favorece o desenvolvimento
*vc emprega os detalhes q tem q ser empregados qndo são necessarios
*vc n descreve o apartamento, por exemplo, pq n eh interessante pra quem lê
*tp qndo vc resolve se juntar a dor, é mto perceptivel qndo vc deixa de lutar
*da pra imaginar oq vc pensou na hora, saca?
*claro, vc escreveu isso lá, mas é interessante passar a cena como um filme
*acho q eh isso

Ninguém criticou, mas tudo bem. Elogio é gostoso, mas pensando bastante com uma amiga eu cheguei a uma conclusão extremamente banal sobre a forma com a qual eu escrevo.

Explico. Preste atenção em algumas das características que negritei. Claro, refrescante, ácido, refinado. Tudo isso funciona muito bem para um texto, mas uma pessoa poderia estar descrevendo a personalidade de alguém. Você é uma pessoa clara, refrescante, ácida, refinada.

Mas principalmente, essas são as características principais do quê?

De uma limonada!

Minha escrita é como uma limonada. E não é uma limonada qualquer, é uma limonada suíça! E eu ADORO limonada suíça! Acho que se só existisse suco de limão no universo eu seria igualmente feliz. Manga é muito forte, maçã é muito fraco, laranja tem pedacinhos que incomodam. Acerola é muito amargo, morango é muito doce. Somente a limonada consegue o equilíbrio perfeito entre força, fraqueza, entre doçura e acidez.

Claro que eu estou brincando aqui. Tanto em escritas quanto em sucos, é bom estarmos regados de variedade de sabores.

Eu só tenho que agradecer, porém, a todos os meus amigos e pessoas que me apóiam. Depois de toda essa análise “sucológica” – e também depois de muito tempo de escrita – eu finalmente tenho a sensação de orgulho com o modo com o qual eu escrevo.

Espero poder contribuir para a felicidade de todos como uma limonada suíça contribui para a minha. Sendo doce e ácido, forte e fraco, claro e nebuloso em quantidades homeopáticas e equilibradas.

Obrigado, meus amigos, e um brinde a todos!

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