sábado, 17 de maio de 2008

A Cadeira

Mesmo que eu quisesse vê-la em preto e branco, lá estava a cadeira, em todo seu esplendor de cores. Eu fui rendido então a apenas fotografá-la exatamente como eu a sentia. Com mágoa. Com dor.

Os matizes, sim, me irritavam. Como poderia a cadeira vazia estar lá, colorida, alegre, enquanto tudo desabava dentro do meu mundo? Que direito tinha a cadeira de regozijar a vida, enquanto eu era corroído pelo desejo do ser que ali se sentara?

A cadeira me encarava como um adversário do xadrez. Fitava-me marota, como se num próximo movimento que eu fizesse, fosse-me derrubado o rei.

Não se estivesse cheia. Não se servisse a qualquer um que se sentasse lá. Aquela cadeira estava marcada. Era a cadeira em que se sentara apenas mais uma de minhas paixões eloqüentes. Imaturas. A cadeira, agora, encarava-me adulta. Logo tornara-se a cadeira toda a minha imaturidade e logo não era somente a ausência que ela vazia representava, mas também a própria existência da magra armação de madeira que desafiava-me os sentidos e os princípios.

A cadeira que segurara uma paixão. Assegurara uma paixão. De fato era isto que ela era. Não uma cadeira vil que ralhava em silêncio contra minha adolescência, não. Era a cadeira que se curvava para o sentar-se da minha paixão. A magra armação de madeira, era em formato de um círculo, o círculo da proteção que ela quieta oferecia. E ela, em toda a sua humildade, deixava-se assentar oferecendo ainda o conforto e o calor. Oferecendo o descanso.

Como poderia eu tê-la julgado assim tão precipitadamente? Que direito tinha eu de não analisá-la,enquanto ela calada deixava-se avassalar por minhas vãs, fúteis críticas?

Eu havia sido impulsivo. Eu deveria ter repensado minhas alianças.

Não era a cadeira a minha inimiga. Era o vazio. Era o silêncio.