quarta-feira, 2 de junho de 2010

Inspiração

Esses dias tenho pensado muito nisso. Ouço muito a frase “você é um artista”. As pessoas não consideram uma constatação (aquele que trabalha com arte), mas um elogio. De modo que a frase se torna prazeirosa. Gosto de ouvir que sou um artista. Sou mesmo, trabalho com arte, vivo com arte, sou arte.

Ao elogiar, porém, as pessoas se enganam que isso seja bom. Nada é absolutamente bom. Só que ser artista possui um lado ruim extremamente trágico que se chama Inspiração.

Não me leve a mal. Não estou tentando ser determinsta. Aliás, pelo contrário. Estou especulando, analisando, supondo.

Já fui de tudo. Ano passado fui organizado e metódico e calculista. Já tive horários. Independente deles, fiz coisas às avessas. Não trabalhei no horário de trabalho para trabalhar de madrugada. Fiz trabalhos de faculdade dois minutos antes da aula (o que é diferente de fazer dever de geografia dois minutos antes da aula). Já joguei durante a aula e já estudei em casa na tranquilidade.

Sou uma coleção de incoerências que se ordena de alguma forma caótica. Sou artístico. Sou todo inspiração.

De que vale, afinal, usar seu tempo em blocos, potencializá-lo? Já fui da opinião de que as pessoas devem organizar seu tempo para que possam dar conta de fazer o que elas devem fazer. Contradigo-me. Será mesmo essa a verdade? É muito fácil ser responsável na coleira. Será mesmo que, tendo a certeza de que o compromisso será cumprido até a data que ele deve ser cumprido, não seria melhor que ele seja feito na horá em que a inspiração gritar?

É claro que isso não se aplica a tudo. Planejamento, até certo ponto, é bom. Essencial, em alguns casos. Mas sempre? Com tudo? Virginianos, por favor! Como posso cobrar que me libertem se a chave da minha cela está comigo?

Estou perdido novamente nesse atrito harmônico entre caos e ordem. Tenho amigos deliberadamente do caos, e amigos deliberadamente da ordem. Que diabos sou eu, meu Deus.

Por que é que há coisas em que o equilíbrio é sua própria ausência?

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