Como que por um movimento falho, um mísero átimo de fricção, eis que me surge uma faísca para ofuscar o altivo pavio e ele acende.
Acende o fogo quase que instantaneamente. Destrutivo, quente como o inferno. O fogo é laranja, ardente de vida. O fogo é intenso, é vibrante, dançante, hipnótico.
Ora, um perfeito espetáculo, beleza incessante para quem vê. Um show de horrores para quem sente. Todos admiram, mas ninguém põe um dedo à prova ao temor de uma queimadura.
Oh, fogo imenso, este mero pavio agora curva-se em louvor à sua grandeza. Faz-me pequeno, rende-me inútil. Faz-me negro de dor com sua majestade diabólica! Queima-me por completo!
Porque o fogo não só desfaz o que é simples e estável. De fato o fogo corrói toda aquela cera, aquela estrutura, aquele suporte infinito, aquele mundo branco e confortável. O pavio curva-se ao seu mundo que derrete abaixo dele. Desfaz-se o chão.
Quando por fim acaba a vela, o que resta? Restam as cinzas, o cheiro azedo de memórias de um passado de parafina. Eis que se acaba a luz. Está findado o espetáculo. O fogo morre e deixa para trás um mundo gris. Um mundo inútil. Um resto de vela não mais vela.
Resta o contentamento da fumaça que por mais cinza que seja é leve. E ascende.
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