quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Fodão, eu não... ^^

Não lhes oferecerei minhas palavras hoje! Por mais que eu escreva, eu não conseguiria chegar a um nível de ironia e perfeição tão grande quanto o do saudoso Álvaro de Campos. Nunca. Por essa razão, as suas remotas palavras fazem, hoje, mais sentido para mim, que minhas próprias convicções.



Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,


Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos (Fernando Pessoa(s)).

sábado, 15 de setembro de 2007

Ode à Vagabundagem


Antecedendo o texto, novamente, vão as desculpas pelo quão deliberado ele está. Escrevi sem organização. Divago demais para revisar. E além disso.... a euforia é tão grande!


Não obtive sucesso algum em perceber o motivo pelo qual não se consideram mais filósofos tanto quanto antigamente. É porque hoje existem atores, cantores e jogadores de futebol? Mas a Grécia foi pioneira em teatro, música e esportes!


Excluindo, naturalmente, a formação científica dos filósofos de antigamente – e o faço por uma razão dramática – o pensamento, e principalmente a consciência humana foram vertidos a uma categoria minoritária nas prioridades de nossa vida. Hoje se trabalha para sobreviver, e calcula-se para o mesmo. É casa, trabalho, trabalho, casa. À família restam socos molhados de álcool.


O tempo passa, e o ser humano não tem tempo para pensar. O capitalismo consumiu toda a liberdade do homem, e o fez trabalhar e trabalhar para sobreviver. Bem aventurados os servos, que, em sua infinita pobreza, eram felizes por estarem servindo ao rei. Em sua infinita pobreza, tinham seu papel fixo na sociedade em que viviam. Mas eram outros tempos.


O ser humano ao longo de sua existência tem perdido a mágica da divagação. Pensar, imaginar, criar. Hoje é tudo regido por um capitalismo intenso. Não se escreve para as musas, não se pintam os deuses, não se toca por pensar! É tudo para vender, e os outros seres humanos não são a sociedade, são apenas consumidores. Lembro-me da cena do filme animado da Pixar, Madagascar, onde Alex, o leão, em sua cegueira por comida, logo vê todos os seres à sua volta se transformar em pedaços de bife. Inclusive seus amigos.


Não se divaga mais. Vivemos como máquinas. A arte de flanar foi sendo perdida, e excêntricos são aqueles que teimam em mantê-la.


Hoje sou crucificado porque me recuso a estudar. Punido por exaltar a liberdade. É como se tudo que eu fizesse e pensasse estivesse fora do campo real. Como se eu fantasiasse o tempo inteiro. É como se eu não fosse confiável. Quase como se eu não fosse uma boa pessoa. “Oh, ele não tem o segundo-grau!”, “Oh, ele não tem nível superior”, “Oh, ele não tem mestrado!”. Tem-se medo dos não estudados? Quem rouba mais tem dúzias de diplomas pregados na parede! Quem rouba mais é esperto o suficiente para ser absolvido, afinal, eles fazem suas próprias leis. Não há divagação nisso. Há ganância.


Ora, a culpa não é minha. A culpa, meus amigos, é da humanidade que falha em ver a divagação como um pleno exercício da faculdade de pensar.